Jung e as quatro máscaras
Carl Gustav Jung, um dos fundadores da psicanálise moderna, costumava dizer que nós todos bebemos em uma mesma fonte. Para definir isso, desenvolveu uma teoria cuja origem pode ser encontrada no trabalho dos antigos alquimistas, que chamavam esta fonte de “alma do mundo” (Anima Mundi).
Segundo esta teoria, sempre tentamos ser indivíduos independentes, mas uma parte de nossa memória é a mesma. Independente de credo ou cultura, todos buscam o ideal da beleza, da dança, da divindade, da música.
A sociedade, entretanto, se encarrega de definir como estes ideais vão se manifestar no plano real. Por exemplo, hoje em dia o ideal de beleza é ser magra, enquanto há milhares de anos as imagens das deusas eram gordas. O mesmo acontece com felicidade: existe uma série de regras que, se você não seguir, seu consciente não aceitará a idéia de que é feliz. Essas regras não são absolutas, e mudam de geração para geração.
Jung costumava classificar o progresso individual em quatro etapas: a primeira era a Persona – máscara que usamos todos os dias, fingindo quem somos. Acreditamos que o mundo depende de nós, que somos ótimos pais e nossos filhos não nos compreendem, que os patrões são injustos, que o sonho do ser humano é não trabalhar nunca e passar a vida inteira viajando. Algumas pessoas procuram entender o que está errado, e terminam encontrando a Sombra.
A Sombra é o nosso lado negro, que dita como devemos agir e nos comportar. Quando tentamos nos livrar da Persona, acendemos uma luz dentro de nós, e vemos as teias de aranha, a covardia, a mesquinhez. A Sombra está ali para impedir nosso progresso – e geralmente consegue, voltamos correndo para ser quem éramos antes de duvidar. Entretanto, alguns sobrevivem a este embate com suas teias de aranha, dizendo: “sim, tenho uma série de defeitos, mas sou digno, e quero ir adiante.”
Neste momento, a Sombra desaparece, e entramos em contato com a Alma.
Por Alma, Jung não está definindo nada religioso; fala de uma volta à Alma do Mundo, fonte do conhecimento. Os instintos começam a se tornar mais aguçados, as emoções são radicais, os sinais da vida são mais importantes que a lógica, a percepção da realidade já não é tão rígida. Começamos a lidar com coisas com as quais não estamos acostumados, passamos a reagir de maneira inesperada para nós mesmos.
E descobrimos que, se conseguimos canalizar todo este jorro de energia contínua, vamos organizá-lo em um centro muito sólido, que Jung chama de o Velho Sábio para os homens, ou a Grande Mãe para as mulheres.
Permitir esta manifestação é algo perigoso. Geralmente, quem chega ali tem a tendência a considerar-se santo, domador de espíritos, profeta.
Não apenas as pessoas, mas as sociedades também usam estas quatro máscaras. A civilização ocidental tem uma Persona, idéias que nos guiam e que parecem verdades absolutas.
Mas as coisas mudam. Em sua tentativa de adaptar-se às mudanças, vemos as grandes manifestações de massa, onde a energia coletiva pode ser manipulada tanto para o bem como para o mal (Sombra). De repente, por alguma razão, a Persona ou a Sombra já não satisfazem – é chegado o momento de um salto, novos valores começam a surgir (mergulho na Alma).
E no final deste processo, para que estes novos valores se instalem, a raça inteira começa a entrar de novo em contato com a linguagem dos sinais (o Velho Sábio).
É exatamente isso que estamos vivendo agora. Pode durar cem ou duzentos anos, mas as coisas estão mudando – para melhor.
Retirado de: Guerreiro da Luz